Segredos de um Vampiro

Sinopse

O enigmático Marq, após 245 anos, retorna ao antigo lar, Cidade dos Anjos, a fim de reintegrar-se à sociedade e resgatar a vida que há muito deixou para trás, porém não esperava se apaixonar por Carol logo ao chegar.

Carol é aficionada em ciências ocultas e bruxaria, Marq, um vampiro. Ambos escondem suas verdadeiras identidades, mas até quando seus segredos ficarão a salvo depois que mortes misteriosas ocorrem na cidade?

E Marq? Controlará seus instintos e não provará do sangue da amada, que tanto deseja?

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Capítulo 1

Marq Melo Monteiro desce do táxi. Caminha rumo à casa.

- Senhor?

Marq mantém as mãos nos bolsos.

- Senhor?... são trinta e dois reais.

Marq vira-se ao motorista, alcança quatro notas de dez, diz para guardar o troco, agradece a ajuda. O motorista, enquanto Marq estava de costas, havia colocado as malas na calçada.

O taxi se afasta.

Marq puxa as duas malas para perto de si e olha ao céu. A lua cheia amarelada ilumina a Cidade dos Anjos. Só a floresta ao redor do lugarejo está escura, contudo, para ele isso não é problema.

O problema é outro, muito mais assustador que a floresta escura.

Marq por um instante levanta a mão, dá dois passos na direção da rua e acena para o táxi, que já está longe.

Floresta…

Uma floresta, frequentada por humanos torna-se um problema quando se deseja mudar de vida, entretanto Marq tomou a decisão, voltou ao lar. Primeiro levantou a mala mais leve e depois a mais pesada. Floresta, escura e assustadora. Ela abriga seres capazes de matar com um só golpe. Porém Marq é infinitamente mais forte.

A porta da sala abre, a luz do luar ilumina, primeiro, revela o interior. Marq coloca as malas na escada. Na sala de estar, reconhece os objetos, continuam onde a mãe costumava deixá-los, alguns ainda cobertos por panos brancos. Depois da morte dos pais, nunca teve coragem de tirá-los.

Bate os dedos no interruptor a fim de acender as luzes. Queimaram.

Tropeça na prateleira, o vaso que a mãe adorava cai, fica em pedaços espalhados pelo chão.

Há muito partiu. Desde o falecimento dos pais foram poucas às vezes em que voltou àquele lugar. O último parente morreu há tanto, Marq sequer lembra quando. Depois de décadas na Europa, decidiu, hora de retornar, enfrentar os medos... Cuidar dos assuntos de família.

Marq agora caminha de cômodo em cômodo, tudo continua do jeito que deixou. Chega a seu quarto... Detém-se por instantes, empurra a porta. Num rangido ela se abre, revela o lugar através do mesmo reflexo da lua. Marq reluta em entrar, teme não suportar o peso das lembranças. Após séculos ainda o que permane vivo de verdade é a saudade dos pais. Num ímpeto adentra o cômodo, observa a larga cama onde dormia quando jovem. A cabeceira continua encostada na parede oposta à janela. O lençol ainda mostra o contorno das almofadas que a mãe gostava de deixar sobre a colcha. Ao lado da janela a estante guarda os livros, junto deles a velha bola improvisada que o pai lhe deu aos doze anos. A lembrança é tão viva, parece ter acontecido ontem.

Agora só lhe resta enfrentar a dor.

Da janela Marq observa duas garotas, uma alta e outra baixinha, caminharem pela rua.
− As férias terminaram, é uma pena – diz a baixinha de minissaia.
− Mais um semestre e adeus segundo grau, parece que foi ontem, mas em seis meses já estaremos na Faculdade – responde a mais alta, a de cabelo preso em rabo de cavalo.
− Já sabe para onde vai? – pergunta a primeira.
− Ai prima, estou tão confusa...

Uma brisa sopra o cheiro das meninas na direção de Marq. Ele fecha os olhos, inspira lenta e profundamente. O aroma atinge-o feito uma bola de fogo, queima-lhe as narinas, em seguida a carne. O aroma da garota mais alta, em particular, é forte, desperta nele o desejo a muito escondido nas entranhas. A fome lhe aperta o estômago, após tantas horas de viagem sem se alimentar necessita de sangue fresco antes do instinto assassino falar mais alto e se descontrolar. Ele se segura a fim de não correr à rua e morder a dona daquele cheiro. Há tempos não deseja de tal maneira sangue humano como aquele.

Marq afasta-se da janela, senta-se no chão, o corpo se contorce.

− Ah! − o grito de dor ecoa na escuridão.

Naquele instante não chega aos pés do humano que já foi na época em que morava naquele lugar. É predador, as garotas as presas, essa é a verdade. Levanta-se, num golpe joga os livros ao chão, derruba a estante. A conversa delas vem de longe, mas o cheiro continua forte.

Marq corre rumo à floresta, sentido contrário ao das garotas, em segundos, depara-se na escuridão. Entre as árvores o odor dos animais ao redor acaricia-lhe as narinas. Pequenos roedores caminham, guincham, correm. Os lábios de Marq tencionam, o corpo se posiciona semelhante ao de um felino.

− Você é meu!

Fácil pegá-los. Há uma fome insaciável dentro dele, sente os dentes vorazes penetrarem a carne quente, salgada. Minutos depois dezenas de animais sucumbiram à sua voracidade. Sacia a fome, não o desejo.

Marq desprende os dentes do animal. A floresta é cheia de sons apavorantes, ele não tem certeza do que o incomodou. Isso o faz soltar a presa e localizar o ruído... Está insatisfeito, o desejo por sangue humano aumentou.

Passos na sua direção quebram o silêncio.

Não quer ser visto, não pode ser visto...

Corre, tenta entrar rápido em casa, mas a porta está trancada.

Volta-se à rua. Tarde demais. O homem que passa acena.
Marq sobressalta-se ao escutar o som que surge dos próprios lábios, ele assemelha-se mais a um miado.

− Boa noite!

Isso não é bom, humanos caminhando pela rua logo baterão à porta. Não esperava vizinhos. Esse era seu refúgio a fim de ficar só quando precisava se controlar. Por que teve que vir para cá e acabar com o pouco de paz conseguida? Deverá colocar o plano em prática mais cedo.

Marq deita-se na cama, mãos apoiadas atrás do pescoço, procura dormir, não que isso faça diferença, só deseja diminuir a intensidade com que os sentimentos vêm a ele. Deixar de raciocinar, cuidar das recordações aos poucos. Desde o retorno muitos golpes violentos o atingiram. À volta ao antigo lar, o cheiro da garota que lhe despertou desejos profundos, as lembranças dos amigos, os vizinhos... sim, os vizinhos serão problema.

De repente, o cheiro daquela garota invade o quarto de novo, obriga-o pular da cama. Em milésimos de segundos, à janela, procura a fonte daquele cheiro.

A imaginação lhe pregou uma peça. 

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